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Elton: Hoje o quadro Brainstorm dentro do
Programa Tá na Mídia recebe ELOY SIMÕES.
Quem é do meio publicitário catarinense certamente
deve conhecê-lo. Como se diz na gíria do futebol,
ele “atua em todas as posições”.
Mas eu vou deixar ele mesmo falar sobre tudo o que ele está
fazendo no momento.
Eloy: Eu leciono na UNISUL, as disciplinas
de Planejamento em Comunicação e também
Criação. Sou também consultor de empresas
e também tenho uma coluna na revista Advertising, que
é editada em Porto Alegre.
Elton: Sobre qual assunto é essa coluna?
Eloy: Sobre o único assunto
que eu sei falar além de futebol: Propaganda, publicidade
e marketing.
Elton: Nós convidamos o Eloy
Simões para nos falar sobre marketing político.
E passado todo o período eleitoral podemos avaliar
com mais calma toda a atuação do publicitário
e vemos que alguns políticos não tão
conhecidos tiveram votações surpreendentes apoiados
justamente em assessorias de profissionais da publicidade.
Até que ponto o marketing político decide uma
eleição?
Eloy:
Eu acho que sozinho ele não decide nunca. Existem alguns
fatores que influenciam no resultado da eleição.
O primeiro fator é o momento. Se a gente pegar o momento
atual, é um momento onde o povo quer mudar, onde o
povo precisa de uma mudança. E quem soube captar bem
esse momento está saindo na frente. A segunda coisa
que influencia numa eleição é o conhecimento
das necessidades e dos desejos dos eleitores que a gente mede
através de pesquisa. Se você olhar, por exemplo,
o programa de governo de todos os candidatos à presidência,
verá que eles são muito parecidos, pois são
todos baseados nas mesmas pesquisas. O terceiro fator é
a mídia. A mídia decide uma eleição.
Ela influencia muito uma eleição. E ninguém
venha me dizer que a mídia é independente, neutra.
Porque se prestarmos atenção nos programas de
televisão, nos debates, sempre há uma “influência”
de quem pergunta. Alguma coisa o apresentador sempre faz.
Eu mesmo vi alguns “massacres” de candidatos que
me deram pena. O Luiz Henrique (governador eleito de Santa
Catarina) teve uma frase publicada no Diário Catarinense
que diz assim: “Depois que eu me aliei com o Lula as
redações ficaram mais simpáticas para
mim”. Isso mostra que atrás da alegada neutralidade
da imprensa existe sim uma forma de influenciar. Há
um livro do Hayakawa, um japonês radicado nos EUA, chamado
Linguagem do Pensamento e Ação. Nesse livro
ele mostra com muita clareza como é impossível
ter uma linguagem neutra. Ele nos diz como a gente, através
da palavra, da ênfase ao falar e da pontuação,
influenciamos quem está do outro lado, quem está
nos ouvindo. A outra coisa importante é o candidato.
Há candidatos que tem carisma e outros que simplesmente
não tem. Nós estamos ainda, infelizmente, vivendo
numa cultura onde se faz necessária a figura do grande
líder.
Elton: O “sem carisma” não
tem chance alguma?
Eloy: O sem carisma é muito
mais difícil de carregar. Ele até pode ganhar,
desde que tenha apoio nos outros fatores que estou citando
aqui. Se pegarmos o candidato Ciro Gomes: a gente sabe que
ele sempre foi um “grosso”. Se olharmos para trás
veremos que quando ele xingava o presidente da república,
ele xingava pra valer. Quando ele xingou o ACM, ele não
mediu as palavras e disse: “mais sujo que pau de galinheiro”.
E aí alguém diz pra ele: “Ciro, agora
você é um santo”. Colocaram-no na frente
da câmera e ele virou um anjo. Até o dia em que
o “demônio” que está dentro dele
disse: “Agora chega. Você vai voltar a ser quem
você era”. E ele começou a “soltar
a cobra”, criticando e xingando todo mundo e a imprensa
tirou partido disso. Se eles tivessem dito a ele: “Ciro,
você não vai deixar de ser grosso, mas segura
um pouco a barra”. Na hora que o “demônio”
que estava dentro dele saiu, todos que estavam acostumados
a verem aquele “santo” sentiram a diferença.
E isso tem muito a ver com o marketing de produto. Quando
você faz o marketing de um produto e faz uma promessa,
e acaba não cumprindo aquela promessa, o consumidor
acaba vendo que há uma distância entre uma coisa
e outra, e aí acaba com o produto. E foi mais ou menos
isso que aconteceu com o Ciro. Se pegarmos agora o outro candidato,
o Garotinho. Ele que aliás me parece ter surgido como
um novo líder político, tomou pancada de todos
os lados, foi ridicularizado o tempo todo e acabou sendo o
terceiro mais votado. Porém ele manteve sempre uma
linha de coerência. Ele teve duas armas, a coerência
dele e a facilidade que ele tem com o trato da rádio
e da televisão. Ele é um ator.
Elton: Ele não mudou. Ele manteve
essa característica ao longo de toda a sua vida pública.
Eloy: Exatamente. Aí você
pega o Serra. Qual foi o grande problema do Serra? Na minha
opinião foi o próprio staff dele. O staff dele
brigou o tempo todo, desde o começo, e ele perdeu tempo
com isso. Se ele tivesse aproveitado as mancadas que o Lula
deu lá no começo da campanha, quando este foi
à França e defendeu a política agrícola
da França contra os “interesses” do Brasil
e se ele tivesse tirado partido das declarações
do Lula em relação ao presidente da Venezuela
e ao Fidel Castro, certamente o Lula começaria desgastado
nessa campanha, mas o staff do Serra começou brigando
e aliás brigou o tempo todo durante a campanha. Então
faltou coerência e eles bobearam. Além disso,
na minha avaliação, o Serra resolveu bater no
Ciro, e fazendo isso ele bateu no cara errado. Ele deveria
ter batido no Lula. Ninguém briga pelo segundo lugar
nessa país. O Brasil vai disputar a copa do mundo e
se ficar em segundo lugar é uma tragédia e todos
ficam decepcionados...
Elton: Do que você viu nessas eleições
você acha que o marketing político evoluiu?
Eloy: Evoluiu e muito. Eu diria que
o Duda Mendonça é um profissional ao nível
dos melhores profissionais do país.
Elton:
Quem faz marketing político ganhou uma conotação
pejorativa de “marketeiro”. Do que você
vê aí, o que é ético e o que não
é ético?
Eloy: Essa coisa da conotação
pejorativa vem lá daquele negócio da jogada
de marketing. O camarada faz um negócio errado e a
imprensa diz: “é jogada de marketing”.
E eu vejo isso, e meus amigos jornalistas vão me perdoar,
como um pouco de ciúme da imprensa. Lembre-se que o
jornalista era o principal assessor dos candidatos até
três eleições atrás. Aí
veio o marketing e ele foi assumindo o comando da campanha
nessa área e isso gerou uma frustração
no pessoal da imprensa que partiu pro contra-ataque, obviamente.
Agora, quando é ético e quando não é:
Não é ético quando o marketing parte
para a mentira, quando ele parte para um tipo agressão
que não é legal. Aí ele deixa de ser
ético.
Elton: Quanto as pesquisas Eloy, você
não acha que elas induzem muito a opinião do
eleitor?
Eloy: Acho. E acho até que
infelizmente a mídia se deixou guiar pelas pesquisas
e acabou fazendo o que o pessoal de marketing queria. Então,
se a imprensa em geral ao invés de procurar seguir
o que a pesquisa dizia, começasse a discutir o programa
de cada candidato, não tenha dúvida que a pesquisa
ficaria simplesmente no lugar onde ela deveria estar, que
é o lugar de uma ferramenta para o pessoal que está
trabalhando as campanhas. Fora disso a pesquisa induz o público.
Elton: Onde é que atua o marketing
político na pesquisa?
Eloy: Ele se baseia todo nela. Ganha
quem souber aproveitar melhor o que a pesquisa diz. O Lula
tirou partido disso com competência extraordinária.
Elton: O marketing político é
100% verdadeiro?
Eloy: Quando ele não é
verdadeiro ele queima o candidato. Eu acabei de citar o exemplo
do Ciro. E porque o eleitor acaba ficando perdido? Porque
infelizmente a imprensa acabou se tornando uma ferramenta
fácil de ser manobrada pelo pessoal de marketing. A
imprensa se submeteu aos caminhos que o marketing dava. “Agora
vamos discutir a pesquisa”. Aí todos os meios
passaram a discutir a pesquisa, e isso interessa ao pessoal
de marketing. Se ao invés disso, fosse dito “agora
vamos discutir os programas de governo, vamos cobrar para
ver o que esses caras estão fazendo e se o que eles
estão prometendo é pra valer. Vamos checar isso”.
Porém ninguém fez isso. Ninguém checou.
Elton:
Eloy Simões, figura conhecidíssima no
nosso mercado publicitário catarinense, obrigado pela
presença.
02/11/2002
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